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.- A ÁRVORE QUE O SÁBIO VÊ, NÃO É A MESMA ÁRVORE QUE O TOLO VÊ! William Blake, londrino, 1800.

sábado, 15 de junho de 2013

Quando eu desfiz sessenta anos....

               
“A vida é uns deveres que nós trouxemos pra fazer em casa.
                Quando se vê, já são seis horas!
                Quando se vê, já é sexta feira,
                Quando se vê, passaram 60 anos
                Agora é tarde demais pra ser reprovado....
                E se me dessem, um dia, uma outra oportunidade,
                Eu nem olhava o relógio.
                Seguia sempre, sempre em frente
                E iria jogando pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas...
                                   “ O tempo”- Mario Quintana
    
             Quando se vê, passaram, sessenta anos.........
             Quando NEM se vê passaram sessenta e um, sessenta e dois.....E ninguém me avisou que seria tão rápido! Acho graça quando alguém com menos de trinta diz que o tempo passa rápido, quando ainda estão sendo lentamente levados pela mãe natureza. Muito breve tomarão uma condução cada vez mais rápida, até a idade em que parecemos estar num trem de alta velocidade em que as estações se sucedem com a rapidez de um corisco, mas que podemos conduzir.... Alguns voltam a caminhar lentamente, e penosamente empurram a mãe natureza.
            Ruben Alves diz que as crianças têm anões(anos grandes), são os velhos que têm aninhos....passam tão rápidos que parecem mínimos. Ele diz também sobre fazer aniversário: “Quando eu desfiz sessenta anos....Desfiz: é a forma correta de dizer, porque esses sessenta anos são os anos que não tenho mais. Quantos eu tenho, só Deus sabe...”.  Ele também diz sobre os anos que ainda temos: ­”Resta quanto tempo?Não sei. O relógio da vida não tem ponteiros. Só se ouve o tiquetaque...Só posso dizer Carpe Diem, colha o dia como um morango vermelho que cresce à beira do abismo; é o que tento fazer”. Eu também.....
            De presente de aniversário peço à Deus saúde física e mental pra continuar achando o tempo rápido e a vida boa, embora eu saiba que como na música de Toquinho...”Vamos todos, numa linda passarela de uma aquarela, que um dia enfim...descolorirá...”
           No espelho o numero 62, deveria ter como toda imagem seu reflexo invertido em 26...não sei onde anda o 26...só vejo 62. Isso me faz lembrar um livro que li há muitos anos; “Retrato de Dorian Gray”. Parece que recentemente, um outro Gray de nome Christian em tons de cinza, anda fazendo alvoroço... deve ser parente daquele....O Gray do retrato é de Oscar Wild, escrito e publicado no final do século retrasado. Dorian, que não era cinza mas também era jovem, bonito e vaidoso, se recusando envelhecer fez um pacto em que daria sua alma para continuar com o viço e a beleza da juventude; e  assim aconteceu. Todos sentiram falta na sala de sua casa do belíssimo quadro, em que fora pintado o retrato do moço garboso. Ninguém sabia que escondido num quarto, trancado à sete chaves, o retrato envelhecia e enfeava  pelo tempo e pelas maldades de seu retratado. Dorian Gray se sentindo poderoso com sua juventude eterna, exatamente como muitos poderosos da História nem tão belos e nem tão jovens, cometeu toda sorte de atrocidades, transferidas como sua real aparência, para o quadro.
           Não me lembro com quem foi feito o tal pacto de Dorian, o Gray antigo, mas só pode ter sido com aquele que gosta de trapacear com os incautos; ele mesmo, aquele que se travestiu de serpente e ofereceu à Eva a maçã proibida. Maçã é fruta pra quem está doente; na minha terra e quando os “anões” eram lentos, havia um senhor que passava vendendo maçãs nas ruas da pequena Herculândia: ”Maaaaaaçã, olha a maçã...” completamente inofensiva.. e sem gosto... Não sei por que Eva não resistiu; e dizem que no Jardim do Eden, onde ela morava, havia um pomar extraordinário .... se fosse uma manga suculenta, um caqui.... Se fossem uvas...mas as maduras ao alcance das mãos, não as verdes, aquelas que a raposa cobiçou na fábula do grego Esopo. Até o abacaxi me parece mais atraente apesar da casca; ou quem sabe a casca espinhosa o torne mais desafiador...E a maçã continuou no imaginário da humanidade... houve ainda aquela do conto dos Irmãos Grimm, em que uma bruxa malvada ofereceu a maçã envenenada à doce princesa. Parece que as maçãs não fazem muito bem às mulheres...Será???!!!Ou é uma invenção dos homens???!!! Acredito que Deus está ocupado demais com tantas coisas mais importantes do que com as frutas que comemos ou deixamos de comer, desde que não sejam envenenadas, nem furtadas do pomar do vizinho....Essas podem no mínimo, provocar uma grande confusão...
          Depois da salada de frutas e retornando ao Dorian Gray, quem leu o livro sabe que o belo jovem-idoso acaba muito mal....  Meu retrato de dezoito anos não envelheceu nadinha nos 44 anos que se seguiram, mas meu espelho reflete exatamente os meus 62, embora com muita energia pra descascar os abacaxis que eventualmente surgirem, e muita alegria e prazer pra saborear as mangas, os caquis, as uvas, até as maçãs... e principalmente os anos que me restam. Reconheço que eu aceitaria uma ajudazinha; não do trapaceador, mas divina...ou mágica....ou quem sabe um acordo, como na música de Maria Bethânia; “.....Compositor dos destinos, tambor de todos os ritmos....tempo, tempo, tempo...entro num acordo contigo....peço-te o prazer legítimo, e o movimento preciso...Quando o tempo for propício......eu espalhe benefícios....Tempo, tempo, tempo.....”
   Rosa Marin Emed.



Obrigado é pouco, para externar a gratidão, pela Rosinha nos brindar com suas maravilhosas crônicas. Um grande abraço Rosinha.

2 comentários:

  1. linda cronica rosinha,parabens,quem dera chegar na sua idade linda assim,fiquei curiosa sobre o livro,vou ler nas ferias porque me fez lembrar do filme a liga extraordinaria que tem um cara que é jovem e no quarto dele tem um retrato dele envelhecendo e a unica forma de acabar com o encanto é fazer ele olhar para o proprio retrato
    bjs
    Carol.

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  2. Então Carol, também existe o filme baseado no livro e com o mesmo nome.
    Um grande abraço.
    Rosa Marin Emed

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