Mãe é uma só...Será??!!Eu tive várias....em uma.Tive a mãe que me deu vida e
afeto. Tanto afeto que à seus olhos os filhos pareciam perfeitos, ou
não....talvez soubesse dos seus defeitos, mas os amava tanto que os defeitos
pareciam...perfeitos.
Tive a mãe disciplinadora; como filha única em meio à quatro irmãos, comigo os
cuidados eram redobrados...por todos eles. Eu era pouco mais que uma menina
quando nos meados dos anos 60 Mary Quant inventa a mini saia, e a alta e magra
modelo Twiggy exibe para o mundo suas longas e finas pernas, e a moda
pega....menos em casa. O recurso era sair com a saia abaixo dos joelhos, e no
portão dobrar e dobrar o cós. A medida era o cumprimento do braço, e assim havia
muitas dobras. E eu que de Twiggy não tinha nada, por bom tempo dobrei e
desdobrei cós de saias no portão; até que um dia esqueci de desdobrar...Mãe
Maria disciplinadora de mãos na cintura dispara. _ “Menina que saia é essa?” e
olhava pra saia que ela mesmo havia costurado...era excelente costureira. Por
sorte estava em casa, minha avó-mãe, Joana Gasquez; pra quem pedi socorro com os
olhos e que retrucou;_ “Nena, só você usa saias curtas?” Explicado que todas as
jovens de minha idade também se vestiam assim, minha avó muda o alvo;_ “Maria, o
que está na moda não incomoda”. No dia seguinte minhas saias foram encurtadas,
não na altura do braço; tivemos uma espécie de negociação e chegamos a um
consenso. Quando minhas filhas eram adolescentes procurava me informar sobre “o
que estava na moda”, e muitas vezes também “negociamos”. Me casei com vestido de
noiva na cor amarela; minha mãe disciplinadora não gostou muito da novidade e
novamente minha avó Joana me socorreu; “A cor do vestido é uma invenção dos
homens; Deus vai abençoar mesmo que ela se vista de vermelho”. Penso que minha
mãe deve ter se apavorado com a sugestão do vermelho e prontamente aceitou o
amarelo. Minha avó adoentada não pode assistir o casamento, mas antes de ir para
a cerimônia fui dar-lhe um abraço e ela me disse; _”Você está linda de noiva
....e de amarelo”. Até hoje antes de entender o que quer que seja, sem
maniqueísmo procuro enxergar todas as nuances da vida como nuances de cores, e
me pergunto se Deus abençoaria ....
Havia também a mãe trabalhadora; dona de casa, se ocupava o dia todo; adorava
cozinhar...seu bife era imbatível....achávamos que era a frigideira, mas minha
cunhada Sonia que a “herdou” (só quis a frigideira) diz que não fica igual.
Porém exagerava na quantidade e quando nos preocupávamos com seu cansaço ela
dizia; “Pronto se hace lo poco que lo mucho”. Até hoje quando penso que não
darei conta do que deve feito; pelo tempo, cansaço ou quantidade, também penso
que “pronto se hace”.
Em minha casa, certos assuntos eram proibidos, como na maioria dos lares
daquele tempo; assim Maria fora criada e assim nos criou. Quando seus cabelos
começaram ficar da cor de neve, a rigidez foi deixando espaço para o novo, que
ela aceitava como só pessoas evoluídas o fazem; com cautela, justiça e
sabedoria; assim era a Mãe Sabedoria.
Dia desses li uma frase atribuída ao nosso novo Papa argentino, Francisco;
argentino, mas também nosso; _ “Se Deus,na criação, correu o risco de nos fazer
livres, quem sou eu pra me meter?” Há quase quarenta anos, ouvi de minha mãe,
mulher simples que mal sabia escrever, lia melhor porque gostava de se informar,
uma verdadeira lição de cidadania e respeito ao diferente. “Se não somos todos
exatamente iguais, e nossas diferenças não fazem mal ao próximo, todos devemos
ser respeitados igualmente, com nossas diferenças”. Desde então, diante de
qualquer estranhamento me pergunto; -Faz mal à alguém?
Tive outras mães; Mãe amiga, confidente, conselheira....só não tive mãe-filha.
Ela partiu quando ainda estava lúcida e independente, como sempre disse que
queria; ”sem dar trabalho pra ninguém”, num final de semana pra não perderem dia
de serviço....Os médicos disseram que foi o coração, eu acho que foi a
saudade...ela não suportou a ausência de meu pai que partira dez meses
antes.
Quando eu estava no oitavo mês de gestação do meu primeiro filho, meu marido me
transmitiu a notícia do falecimento de minha avó Joana.Diante do meu desespero
ele pediu;- “Acalme-se; pense no bebê.”Foi o que fiz; apesar da enorme tristeza
me acalmei.Vinte e oito anos depois, meu marido novamente foi incumbido de me
transmitir outra triste notícia; minha mãe havia partido; e novamente ante meu
desespero e o olhar de minhas filhas ele me pede; “Acalme-se, não assuste a
Luciana, pense no bebê”. Esperávamos a chegada do meu primeiro neto. Vidas que
se vão e vidas que chegam.
Não
tenho mais nenhuma dessas mães, mas ainda tenho muito viva, a Mãe
Saudade.
Rosinha, muito obrigado, um grande abraço e feliz dia das Mães.
Parabens Irmã. Relato e retrato perfeito da familia. Teu mano, Beltran.
ResponderExcluirRAUL RIBAS
ResponderExcluirMinha Mãe
Da pátria formosa distante e saudoso,
Chorando e gemendo meus cantos de dor,
Eu guardo no peito a imagem querida
Do mais verdadeiro, do mais santo amor:
— Minha Mãe! —
Nas horas caladas das noites d’estio
Sentado sozinho co’a face na mão,
Eu choro e soluço por quem me chamava
— “Oh filho querido do meu coração!” —
— Minha Mãe! —
No berço, pendente dos ramos floridos,
Em que eu pequenino feliz dormitava:
Quem é que esse berço com todo o cuidado
Cantando cantigas alegre embalava?
— Minha Mãe! —
De noite, alta noite, quando eu já dormia
Sonhando esses sonhos dos anjos dos céus,
Quem é que meus lábios dormentes roçava,
Qual anjo da guarda, qual sopro de Deus?
— Minha Mãe! —
Feliz o bom filho que pode contente
Na casa paterna de noite e de dia
Sentir as carícias do anjo de amores,
Da estrela brilhante que a vida nos guia!
— Minha Mãe!—
Por isso eu agora na terra do exílio,
Sentando sozinho co’a face na mão,
Suspiro e soluço por quem me chamava:
— “Oh filho querido do meu coração!” —
— Minha Mãe! —
Casimiro de Abreu
RAUL RIBAS
Minha Mãe
Da pátria formosa distante e saudoso,
Chorando e gemendo meus cantos de dor,
Eu guardo no peito a imagem querida
Do mais verdadeiro, do mais santo amor:
— Minha Mãe! —
Nas horas caladas das noites d’estio
Sentado sozinho co’a face na mão,
Eu choro e soluço por quem me chamava
— “Oh filho querido do meu coração!” —
— Minha Mãe! —
No berço, pendente dos ramos floridos,
Em que eu pequenino feliz dormitava:
Quem é que esse berço com todo o cuidado
Cantando cantigas alegre embalava?
— Minha Mãe! —
De noite, alta noite, quando eu já dormia
Sonhando esses sonhos dos anjos dos céus,
Quem é que meus lábios dormentes roçava,
Qual anjo da guarda, qual sopro de Deus?
— Minha Mãe! —
Feliz o bom filho que pode contente
Na casa paterna de noite e de dia
Sentir as carícias do anjo de amores,
Da estrela brilhante que a vida nos guia!
— Minha Mãe!—
Por isso eu agora na terra do exílio,
Sentando sozinho co’a face na mão,
Suspiro e soluço por quem me chamava:
— “Oh filho querido do meu coração!” —
— Minha Mãe! —
Casimiro de Abreu
Na poesia "Minha mãe"; Casimiro de Abreu fala da saudade de suas duas mães;a que lhe deu vida e a Mãe Pátria....mãe não é só uma.
ExcluirSenti tua falta Raul Ribas...
Rosinha
Mais um texto lindo de Rosinha. Sensível, verdadeiro e cheio de amor e carinho.
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