Imaginemos a Kombi estatizada: o governo federal compraria a enorme e obsoleta fábrica da VW no Km 23,5 da Via Anchieta, claro, com um repasse bilionário do BNDES, desde que o fabricante alemão se comprometa a abrir CINCO (!!!) novas plantas menores e mais eficientes em localidades em desenvolvimento.
É isso mesmo: uma fábrica antiga e obsoleta custaria o mesmo que cinco fábricas novinhas, dessas que alavancam as carreiras dos engenheiros de produção. Mas pouco importa: sob nova direção, a primeira Kombi Vermelha sairia novamente das velhas alas da Via Anchieta. Seria o "Dia da Kombi", oficialmente um feriado nacional.
Todos os ex-empregados da VW teriam seus contratos rescindidos: parte do montante bilionário do BNDES seria destinado a pagar suas indenizações. Quem quiser trabalhar na linha de montagem da Kombi Vermelha agora terá de prestar concurso público: os cargos de encarregado, chefe, gerente, gerente executivo e diretor seriam comissionados, mas exclusivos a integrantes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Estatizada, a Kombi Vermelha perde participação no mercado: ficou mais cara e piorou muito em qualidade. A ferrugem superficial que se manifestava em 1 ano agora é passante, transfixando as chapas em apenas 6 meses. Parafusos se soltam, peças caem e milhares delas ficam pelas ruas, com exceção das que servem ao Sindicato dos Metalúrgicos: nunca saem do pátio, pois foi todo mundo para Brasília.
A "presidentA" convoca uma reunião ministerial e logo conclui que o Sindicato sozinho não tem condições de administrar a nova estatal: decide então criar um ministério (mais um, o 40º) exclusivo para comandar a produção da Kombi Vermelha. O ex-presidente de nove dedos defende a medida, invocando a manutenção dos empregos, o investimento de milhões e até mesmo a segurança nacional.
Diretamente da Papuda, um ex-ministro sugere abatimento de 50% no Imposto de Renda para todas as pessoas físicas e jurídicas que adquirirem a Kombi Vermelha. Outro ex-ministro, diretamente de Ribeirão Preto, chega com um plano para multiplicar o patrimônio da estatal 20 vezes.
As vendas reagem, mas continuam discretas: outro ex-ministro aparece e sugere a criação de um cartão corporativo para os proprietários de Kombis Vermelhas. Esse cartão daria 50% de desconto na compra de combustível, óleo lubrificante e tapiocas em todos os postos BR.
Um membro do alto escalão sugere a compra de dossiês que comprometam a imagem da concorrência: as vendas reagem discretamente, o que leva o governo a pensar em outras medidas, como seguro de vida sem restrições de perfil e subsídios em toda a rede hoteleira para que as pessoas deixem de viajar de avião para viajar de... Kombi.
Para atrair novos compradores, o governo cria dois novos programas, o "Bolsa Kombi" e o "Minha Kombi, Minha Vida": isenção total de IPI e subsídio integral do ICMS, desde que o governo estadual seja aliado do governo federal. Financiamentos pelo Banco do Brasil com 5% de juros a.a., que moleza!
A reação é discreta: o governo então decide aumentar a alíquota de IPI da concorrência. Se for importado então, a alíquota sobre para 150%. Você compra uma Kombi Vermelha nova e ganha R$ 5.000,00 em créditos para gastar em frango e farofa nas cidades litorâneas. A estatal perde cerca de R$ 700.000.000,00 por mês.
A Kombi Vermelha começa a ser exportada para Cuba e Coréia do Norte. A Venezuela recusa a oferta alegando que já há desgraça demais no país: a Venirauto. O governo decide montar uma unidade de produção na Bolívia, mas sofre um revés: o presidente indígena estatiza toda a linha de produção em troca de apenas US$ 112.000.000,00.
O governo decide então isentar todas as Kombis Vermelhas das vistorias da Controlar em todo o território nacional, mas cobranco uma "compensação ambiental" de todos aqueles que preferirem um veículo da concorrência. Mesmo custando R$ 90.000,00, as vendas da Kombi Estatal finalmente decolam.
Para finalizar, são criados dois novos impostos: o ISAB (Imposto Sobre Air-Bag) e o IINFABS (Imposto Incidente No Freio ABS): inviabilizada, a concorrência definha. No "Jornal Nacional", William Bonner anuncia o sucesso retumbante do "Bolsa Kombi" e do "Minha Kombi, Minha Vida".
O sucesso da empreitada leva o governo a investir na transferência de tecnologia alemã: para evitar a espionagem dos EUA tudo virá de Zwickau e Eisenach, enviado por partidários de Erich Honecker simpatizantes da Gurgel. Tecnologia "nacional" a serviço do Brasil.
Começam as manobras contábeis: com o prejuízo diluído no futuro, tudo vira lucro. Pouco importa se a dívida bruta do governo brasileiro equivale a quase 70% do PIB: o que importa é que as vendas da Kombi Vermelha estão de vento em popa e os empregos foram garantidos. Alguém está pagando por isso.
A bordo da Kombi Vermelha, a inflação não precisa mais galopar: ela agora anda sobre 4 rodas. Mesmo sem GPS, a velha guerreira topa qualquer caminho, menos o de um futuro promissor: a eterna reverência ao passado (e ideologias fracassadas) faz com que ele seja um destino inalcançável.
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