Cliquem aqui, http://radiovitrolaonline.com.br/, acionem a Rádio Vitrola, minimizem e naveguem suavemente sem comerciais.

.- A ÁRVORE QUE O SÁBIO VÊ, NÃO É A MESMA ÁRVORE QUE O TOLO VÊ! William Blake, londrino, 1800.

domingo, 12 de maio de 2013

Mãe não é só uma


Mãe é uma só...Será??!!Eu tive várias....em uma.Tive a mãe  que me deu vida e afeto. Tanto afeto que à seus olhos os filhos pareciam perfeitos, ou não....talvez soubesse dos seus defeitos, mas os amava tanto que os defeitos pareciam...perfeitos.
         Tive a mãe disciplinadora; como filha única em meio à quatro irmãos, comigo os cuidados eram redobrados...por todos eles. Eu era pouco mais que uma menina quando nos meados dos anos 60 Mary Quant inventa a mini saia, e a alta e magra modelo Twiggy exibe para o mundo suas longas e finas pernas, e a moda pega....menos em casa. O recurso era sair com a saia abaixo dos joelhos, e no portão dobrar e dobrar o cós. A medida era o cumprimento do braço, e assim havia muitas dobras. E eu que de Twiggy não tinha nada, por bom tempo dobrei e desdobrei cós de saias no portão; até que um dia esqueci de desdobrar...Mãe Maria disciplinadora de mãos na cintura dispara. _ “Menina que saia é essa?” e olhava pra saia que ela mesmo havia costurado...era excelente costureira. Por sorte estava em casa, minha avó-mãe, Joana Gasquez; pra quem pedi socorro com os olhos e que retrucou;_ “Nena, só você usa saias curtas?” Explicado que todas as jovens de minha idade também se vestiam assim, minha avó muda o alvo;_ “Maria, o que está na moda não incomoda”. No dia seguinte minhas saias foram encurtadas, não na altura do braço; tivemos uma espécie de negociação e chegamos a um consenso. Quando minhas filhas eram adolescentes procurava me informar sobre “o que estava na moda”, e muitas vezes também “negociamos”. Me casei com vestido de noiva na cor amarela; minha mãe disciplinadora não gostou muito da novidade e novamente minha avó Joana me socorreu; “A cor do vestido é uma invenção dos homens; Deus vai abençoar mesmo que ela se vista de vermelho”. Penso que minha mãe deve ter se apavorado com a sugestão do vermelho e prontamente aceitou o amarelo. Minha avó adoentada não pode assistir o casamento, mas antes de ir para a cerimônia fui dar-lhe um abraço e ela me disse; _”Você está linda de noiva ....e de amarelo”. Até hoje antes de entender o que quer que seja, sem maniqueísmo procuro enxergar todas as nuances da vida como nuances de cores, e me pergunto se Deus abençoaria ....
        Havia também a mãe trabalhadora; dona de casa, se ocupava o dia todo; adorava cozinhar...seu bife era imbatível....achávamos que era a frigideira, mas minha cunhada Sonia que a “herdou” (só quis a frigideira) diz que não fica igual. Porém exagerava na quantidade e quando nos preocupávamos com seu cansaço ela dizia; “Pronto se hace lo poco que lo mucho”. Até hoje quando penso que não  darei conta do que deve feito; pelo tempo, cansaço ou quantidade, também penso que “pronto se hace”.
       Em minha casa, certos assuntos eram proibidos, como na maioria dos lares daquele tempo; assim Maria fora criada e assim nos criou. Quando seus cabelos começaram  ficar da cor de neve, a rigidez foi deixando espaço para o novo, que ela aceitava como só pessoas evoluídas o fazem; com cautela, justiça e sabedoria; assim era a Mãe Sabedoria.
       Dia desses li uma frase atribuída ao nosso novo Papa argentino,  Francisco; argentino, mas também nosso; _ “Se Deus,na criação, correu o risco de nos fazer livres, quem sou eu pra me meter?” Há quase quarenta anos, ouvi de minha mãe, mulher simples que mal sabia escrever, lia melhor porque gostava de se informar, uma verdadeira lição de cidadania e respeito ao diferente. “Se não somos todos exatamente iguais, e nossas diferenças não fazem mal ao próximo, todos devemos ser respeitados igualmente, com nossas diferenças”. Desde então, diante de qualquer estranhamento me pergunto; -Faz mal à alguém?
      Tive outras mães; Mãe amiga, confidente, conselheira....só não tive mãe-filha. Ela partiu quando ainda estava lúcida e independente, como sempre disse que queria; ”sem dar trabalho pra ninguém”, num final de semana pra não perderem dia de serviço....Os médicos disseram que foi o coração, eu acho que foi a saudade...ela não suportou a ausência de meu pai que partira dez meses antes.
      Quando eu estava no oitavo mês de gestação do meu primeiro filho, meu marido me transmitiu a notícia do falecimento de minha avó Joana.Diante do meu desespero ele pediu;- “Acalme-se; pense no bebê.”Foi o que fiz; apesar da enorme tristeza me acalmei.Vinte e oito anos depois, meu marido novamente foi incumbido de me transmitir outra triste notícia; minha mãe havia partido; e novamente ante meu desespero e o olhar de minhas filhas ele me pede; “Acalme-se, não assuste a Luciana, pense no bebê”. Esperávamos a chegada do meu primeiro neto. Vidas que se vão e vidas que chegam.
 Não tenho mais nenhuma dessas mães, mas ainda tenho muito viva, a Mãe Saudade.

Rosa Marin Emed.

Rosinha, muito obrigado, um grande abraço e feliz dia das Mães.

4 comentários:

  1. Parabens Irmã. Relato e retrato perfeito da familia. Teu mano, Beltran.

    ResponderExcluir
  2. RAUL RIBAS

    Minha Mãe

    Da pátria formosa distante e saudoso,
    Chorando e gemendo meus cantos de dor,
    Eu guardo no peito a imagem querida
    Do mais verdadeiro, do mais santo amor:
    — Minha Mãe! —

    Nas horas caladas das noites d’estio
    Sentado sozinho co’a face na mão,
    Eu choro e soluço por quem me chamava
    — “Oh filho querido do meu coração!” —
    — Minha Mãe! —

    No berço, pendente dos ramos floridos,
    Em que eu pequenino feliz dormitava:
    Quem é que esse berço com todo o cuidado
    Cantando cantigas alegre embalava?
    — Minha Mãe! —

    De noite, alta noite, quando eu já dormia
    Sonhando esses sonhos dos anjos dos céus,
    Quem é que meus lábios dormentes roçava,
    Qual anjo da guarda, qual sopro de Deus?
    — Minha Mãe! —

    Feliz o bom filho que pode contente
    Na casa paterna de noite e de dia
    Sentir as carícias do anjo de amores,
    Da estrela brilhante que a vida nos guia!
    — Minha Mãe!—

    Por isso eu agora na terra do exílio,
    Sentando sozinho co’a face na mão,
    Suspiro e soluço por quem me chamava:
    — “Oh filho querido do meu coração!” —
    — Minha Mãe! —

    Casimiro de Abreu
    RAUL RIBAS

    Minha Mãe

    Da pátria formosa distante e saudoso,
    Chorando e gemendo meus cantos de dor,
    Eu guardo no peito a imagem querida
    Do mais verdadeiro, do mais santo amor:
    — Minha Mãe! —

    Nas horas caladas das noites d’estio
    Sentado sozinho co’a face na mão,
    Eu choro e soluço por quem me chamava
    — “Oh filho querido do meu coração!” —
    — Minha Mãe! —

    No berço, pendente dos ramos floridos,
    Em que eu pequenino feliz dormitava:
    Quem é que esse berço com todo o cuidado
    Cantando cantigas alegre embalava?
    — Minha Mãe! —

    De noite, alta noite, quando eu já dormia
    Sonhando esses sonhos dos anjos dos céus,
    Quem é que meus lábios dormentes roçava,
    Qual anjo da guarda, qual sopro de Deus?
    — Minha Mãe! —

    Feliz o bom filho que pode contente
    Na casa paterna de noite e de dia
    Sentir as carícias do anjo de amores,
    Da estrela brilhante que a vida nos guia!
    — Minha Mãe!—

    Por isso eu agora na terra do exílio,
    Sentando sozinho co’a face na mão,
    Suspiro e soluço por quem me chamava:
    — “Oh filho querido do meu coração!” —
    — Minha Mãe! —

    Casimiro de Abreu

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Na poesia "Minha mãe"; Casimiro de Abreu fala da saudade de suas duas mães;a que lhe deu vida e a Mãe Pátria....mãe não é só uma.
      Senti tua falta Raul Ribas...
      Rosinha

      Excluir
  3. Mais um texto lindo de Rosinha. Sensível, verdadeiro e cheio de amor e carinho.

    ResponderExcluir