aquele em que você corre o risco de comprar o que ninguém
quis, que você não precisa, e por um preço que não vale. Mas sempre temos a
esperança de encontrar algum “achado” valioso; e vamos às compras e às
vendedoras:
_ “A senhora procura algo específico?”_”Não, só estou dando uma
olhadinha” –“Fique à vontade”. Algumas nos deixam mesmo à vontade, outras seguem
a cliente como naquela brincadeira antiga do “siga o líder”, desconfio que se
uma bocejar ou bater palmas, a outra também o faz; nesses casos agradeço e saio.
Têm aquelas que juram que a roupa 38 serve num corpo 48 ou vice e versa, e que
você fica deslumbrante tanto de branco como de preto, passando por todo o
arco-íris e suas nuances de cores. Mas tem as que não pecam pela ansiedade em
vender e você confia... acredita... e compra!!!E
volta!!!
Lembrei dos meus
tempos de vendedora. Tive por alguns anos uma loja de moda praia e ginástica;
tudo perigosamente muito próximo da vaidade feminina, porém enfrentei bem o
desafio. Não ganhei muito dinheiro, mas ganhei amigas e muitas delas iam à loja
para conversar; por minha formação sou boa ouvinte, e quando me dava conta
estava exercitando o que ainda restava em mim da psicóloga que fui um dia. Com
algumas houve uma troca extremamente gratificante e continuamos amigas
afetuosas. Logo percebi um mercado carente para as mulheres diferentes do padrão
de beleza das jovens e magras, e fui à procura de mercadoria bonita, colorida e
de boa qualidade pra essa população; pesquisei, sugeri aos fornecedores,
repassei queixas e assim minha pequena loja passou a ter mercadoria de moda
feminina de praia e de ginástica do PP ao GG .
Aprendi a reconhecer e exigir qualidade, e
jamais vendi “gato por lebre”. Com o tempo ganhei experiência em oferecer o mais
indicado para cada tipo de cliente, e com cuidado e delicadeza muitas vezes as
orientava nas suas escolhas. Mas houve uma com quem eu realmente não tive
sucesso. Seis horas da tarde de uma sexta feira, me preparava pra fechar a loja
e me arrumar para ir a um casamento. Eu tinha o tempo “cronometrado” pra isso,
quando entra na loja uma mulher e sua filha adolescente; ambas muito bonitas. A
linda jovem rapidamente escolheu o que queria no seu tamanho PP, e esperou com
impaciência mal disfarçada a mãe que sem muitas delongas entra no provador, e
contrariando minhas expectativas, prova.... prova....e demora...E eu de olho no
relógio imaginando a noiva, a marcha nupcial, a troca de alianças, todo o ritual
da cerimônia, e ao mesmo tempo procurando atende-las com amabilidade... Um olho
no peixe e outro no gato....
Era uma linda
mulher exuberante, por isso acreditei que seria rápida como a filha; daquelas
mulheres que fazem os homens torcer o pescoço e as mulheres invejosas torcer o
nariz e chamarem de gorda. Quando quase todas as roupas da loja foram parar no
chão do provador, ouço da provável cliente: _”Este teu espelho é de má
qualidade, engorda e deforma.”Fiquei muda, mas algo deve ter denunciado minha
incredulidade, e ela continuou; “Vou vestir novamente e você vai me olhar e
olhar no espelho a grande diferença.” Naquele momento pensei seriamente em
trocar minha loja por um pet shop, e desesperadamente sugeri que ela escolhesse
algumas peças para provar em casa com calma, e frente à seu espelho. E lá se foi
a bela mulher com boa parte do meu estoque e com a promessa de devolver tudo bem
cedo no dia seguinte. Antes de fechar a loja, dei uma espiada no meu
espelho....ele me pareceu inofensivo e honesto como sempre
fora.
Em casa meu marido me esperava pronto; homem
pronto pra festa é homem de banho tomado, terno, sapato social e ponto; quando
pedi dez minutos ele sorriu sarcástico...Banho tomado, cabelo preso pra
disfarçar a falta de tempo pro xampu secador e escova, batom e o vestido
salvador...salvador porque bonito; chamaria mais atenção do que minhas
improvisações, e finalmente.... a festa do casamento; ninguém acreditaria se eu
contasse o motivo do atraso. Me diverti como sempre; depois de alguns minutos, o
cabelo desarrumado, a falta de rimel e de blush não tinham a menor importância
.....ai que mentira!!!
A cliente ficou
esquecida até o dia seguinte. Nove horas loja aberta, 11horas, 15 horas e a loja
desfalcada....Novamente às 18 horas, ela entra feito um furacão, desta feita
desacompanhada. Atira as sacolas sobre a mesa dizendo agressivamente;_ ”você vai
falir se continuar vendendo estas roupas que engordam e deformam...” Meu
primeiro impulso foi devolver a agressão, mas me lembrei de um velho ditado
chinês: Não se deve nunca provocar uma fera domada, pois sua natureza sempre
permanece, mesmo que sob aparência de pacificação e aquela já estava perdendo
até mesmo essa aparência...já não me pareceu tão
bonita!
Quando a olhei antes que se fosse, percebi ou
intui em seus olhos e em sua postura, uma grande tristeza...Era uma fera
ferida....Respeitei sua dor mascarada de agressividade, e me calei...Tive
vontade de lhe confortar, ou quem sabe a curiosidade da antiga psicóloga me
acenou e me desafiou. Ainda que com o objetivo de ajudar, todos os psicólogos,
psicanalistas, terapeutas e outros são e devem ser curiosos, faz parte da
escolha e do exercício profissional, e mesmo não mais exercendo devo ter
conservado algum resquício... Mas sabia que com aquela cliente não teria êxito
também nessa empreitada. Retirei as roupas amarfanhadas das sacolas, e as dobrei
calma e cuidadosamente....
Rosa Marin Emed
Olá Rosinha. Muito obrigado mesmo. Um grande abraço a você.
Caracas Irmã! Andas inspiradissima. Continues firme. Já, já estas apta a editar o primeiro livro, a exemplo do J. Sylvio.
ResponderExcluirbjs Beltran
Tenho uma loja e conheço muito bem este tipo de cliente.Parabéns Rosa pelo texto.
ResponderExcluirAbs.Clodoaldo