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.- A ÁRVORE QUE O SÁBIO VÊ, NÃO É A MESMA ÁRVORE QUE O TOLO VÊ! William Blake, londrino, 1800.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Tempo de promoções...


aquele em que você corre o risco de comprar o que ninguém quis, que você não precisa, e por um preço que não vale. Mas sempre temos a esperança de encontrar algum “achado” valioso; e vamos às compras e às vendedoras:
_ “A senhora procura algo específico?”_”Não, só estou dando uma olhadinha” –“Fique à vontade”. Algumas nos deixam mesmo à vontade, outras seguem a cliente como naquela brincadeira antiga do “siga o líder”, desconfio que se uma bocejar ou bater palmas, a outra também o faz; nesses casos agradeço e saio. Têm aquelas que juram que a roupa 38 serve num corpo 48 ou vice e versa, e que você fica deslumbrante tanto de branco como de preto, passando por todo o arco-íris e suas nuances de cores. Mas tem as que não pecam pela ansiedade em vender e você confia... acredita... e compra!!!E volta!!!
       Lembrei dos meus tempos de vendedora. Tive por alguns anos uma loja de moda praia e ginástica; tudo perigosamente muito próximo da vaidade feminina, porém enfrentei bem o desafio. Não ganhei muito dinheiro, mas ganhei amigas e muitas delas iam à loja para conversar; por minha formação sou boa ouvinte, e quando me dava conta estava exercitando o que ainda restava em mim da psicóloga que fui um dia. Com algumas houve uma troca extremamente gratificante e continuamos amigas afetuosas. Logo percebi um mercado carente para as mulheres diferentes do padrão de beleza das jovens e magras, e fui à procura de mercadoria bonita, colorida e de boa qualidade pra essa população; pesquisei, sugeri aos fornecedores, repassei queixas e assim minha pequena loja passou a ter mercadoria de moda feminina de praia e de ginástica do PP ao GG .
      Aprendi a reconhecer e exigir qualidade, e jamais vendi “gato por lebre”. Com o tempo ganhei experiência em oferecer o mais indicado para cada tipo de cliente, e com cuidado e delicadeza muitas vezes as orientava nas suas escolhas. Mas houve uma com quem eu realmente não tive sucesso. Seis horas da tarde de uma sexta feira, me preparava pra fechar a loja e me arrumar para ir a um casamento. Eu tinha o tempo “cronometrado” pra isso, quando entra na loja uma mulher e sua filha adolescente; ambas muito bonitas. A linda jovem rapidamente escolheu o que queria no seu tamanho PP, e esperou com impaciência mal disfarçada a mãe que sem muitas delongas entra no provador, e contrariando minhas expectativas, prova.... prova....e demora...E eu de olho no relógio imaginando a noiva, a marcha nupcial, a troca de alianças, todo o ritual da cerimônia, e ao mesmo tempo procurando atende-las com amabilidade... Um olho no peixe e outro no gato....
         Era uma linda mulher exuberante, por isso acreditei que seria rápida como a filha; daquelas mulheres que fazem os homens torcer o pescoço e as mulheres invejosas torcer o nariz e chamarem de gorda. Quando quase todas as roupas da loja foram parar no chão do provador, ouço da provável cliente: _”Este teu espelho é de má qualidade, engorda e deforma.”Fiquei muda, mas algo deve ter denunciado minha incredulidade, e ela continuou; “Vou vestir novamente e você vai me olhar e olhar no espelho a grande diferença.” Naquele momento pensei seriamente em trocar minha loja por um pet shop, e desesperadamente sugeri que ela escolhesse algumas peças para provar em casa com calma, e frente à seu espelho. E lá se foi a bela mulher com boa parte do meu estoque e com a promessa de devolver tudo bem cedo no dia seguinte. Antes de fechar a loja, dei uma espiada no meu espelho....ele me pareceu inofensivo e honesto como sempre fora.
      Em casa meu marido me esperava pronto; homem pronto pra festa é homem de banho tomado, terno, sapato social e ponto; quando pedi dez minutos ele sorriu sarcástico...Banho tomado, cabelo preso pra disfarçar a falta de tempo pro xampu secador e escova, batom e o vestido salvador...salvador porque bonito; chamaria mais atenção do que minhas improvisações, e finalmente.... a festa do casamento; ninguém acreditaria se eu contasse o motivo do atraso. Me diverti como sempre; depois de alguns minutos, o cabelo desarrumado, a falta de rimel e de blush não tinham a menor importância .....ai que mentira!!!
       A cliente ficou esquecida até o dia seguinte. Nove horas loja aberta, 11horas, 15 horas e a loja desfalcada....Novamente às 18 horas, ela entra feito um furacão, desta feita desacompanhada. Atira as sacolas sobre a mesa dizendo agressivamente;_ ”você vai falir se continuar vendendo estas roupas que engordam e deformam...” Meu primeiro impulso foi devolver a agressão, mas me lembrei de um velho ditado chinês: Não se deve nunca provocar uma fera domada, pois sua natureza sempre permanece, mesmo que sob aparência de pacificação e aquela já estava perdendo até mesmo essa aparência...já não me pareceu tão bonita!
        Quando a olhei antes que se fosse, percebi ou intui em seus olhos e em sua postura, uma grande tristeza...Era uma fera ferida....Respeitei sua dor mascarada de agressividade, e me calei...Tive vontade de lhe confortar, ou quem sabe a curiosidade da antiga psicóloga me acenou e me desafiou. Ainda que com o objetivo de ajudar, todos os psicólogos, psicanalistas, terapeutas e outros são e devem ser curiosos, faz parte da escolha e do exercício profissional, e mesmo não mais exercendo devo ter conservado algum resquício... Mas sabia que com aquela cliente não teria êxito também nessa empreitada. Retirei as roupas amarfanhadas das sacolas, e as dobrei calma e cuidadosamente....

Rosa Marin Emed

Olá Rosinha. Muito obrigado mesmo. Um grande abraço a você.

2 comentários:

  1. Caracas Irmã! Andas inspiradissima. Continues firme. Já, já estas apta a editar o primeiro livro, a exemplo do J. Sylvio.
    bjs Beltran

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  2. Tenho uma loja e conheço muito bem este tipo de cliente.Parabéns Rosa pelo texto.
    Abs.Clodoaldo

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