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.- A ÁRVORE QUE O SÁBIO VÊ, NÃO É A MESMA ÁRVORE QUE O TOLO VÊ! William Blake, londrino, 1800.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Como não tenho “mãos de Eurídice” carregadas de amor e ódio, de jóias e de culpa, permitirei que envelheçam em paz....



Faz algum tempo retirei de meu braço uma pinta suspeita, que se revelou inofensiva. Após o procedimento a jovem médica me perguntou candidamente se eu não queria rejuvenescer minhas mãos, argumentei que como sou eu que preparo quase todos os dias o que se vai à mesa em minha casa, tinha muitos anos de forno e fogão; já tentei delegar isso, mas ninguém aprovou...nem eu. Também foram muitos anos de mão na direção e ao sol; transportando, levando, buscando... Talvez por isso, elas estivessem demasiado marcadas; a médica retrucou que também cozinhava e dirigia, e colocou suas lindas mãos de trinta ao lado das minhas sexagenárias mãos. Confesso que fiquei tentada, e enquanto ela explicava o procedimento rejuvenescedor, eu imaginava minhas mãos novamente lisas, sem manchas e devidamente preenchidas. Viajei mais distante e as vi infladas, com furinhos entre os dedos como as mãozinhas dos bebês...”Opa!!!isso não combina comigo...” Então perguntei sem ter nada entendido ou sequer ouvido:”Dói?” Ela tossiu, disfarçou ...”Só um pouco”. Como andava farta de dores, respondi que ia pensar.... e não pensei mais no assunto. 

Hoje pintei minhas unhas de cor de rosa, não o “cor de rosa choque” da canção de Rita Lee, nem o atrevido rosa pink, não é o delicado rosa claro que uma amiga chama de “cor de virgem”, mas o discreto “rosa antigo”. Quando olhei para elas senti uma pontada de dor; levei alguns segundos pra entender que era dor de saudade...minhas mãos estão exatamente iguais às mãos de minha mãe como me lembro delas; mãos de mãe, mãos de avó, mãos de trabalhadora enfeitadas de rosa antigo ...Me lembrei do “Monólogo das mãos”, de Giusepe Ghiaroni, eternizado por Procópio Ferreira
 .....”As mãos servem para pedir, prometer, chamar, conceder, suplicar, acariciar, encorajar, acusar, perdoar, benzer, trabalhar, escrever....Com as mãos atira-se um beijo ou uma pedra, uma flor ou uma granada, uma esmola ou uma bomba....Com as mãos limpamos as nossas lágrimas e as alheias....” 

Como não tenho “mãos de Eurídice” carregadas de amor e ódio, de jóias e de culpa, permitirei que envelheçam em paz....
 Rosa Marin Emed


Olá Rosinha, muito obrigado e um grande abraço.

2 comentários:


  1. RAUL RIBAS
    Não importa se o texto por si só pede densidade e delonga, com nossa cronista Rosinha, a prevalência da síntese se impõe com maestria sem comprometimento do todo, assim como exercitasse uma “lipoaspiração” das sobras!

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  2. Caro Raul Ribas
    Agradeço seus comentários aos meus escritos, que meus amigos Sérgio e José Silvio generosamente chamam de crônicas possíveis de um dia se transformarem em livro; confesso que me agradam e estimulam. Quem sabe eu tenha tempo de vida suficiente e competência em exercitar não só uma lipoaspiração, mas uma lipoescultura onde as sobras são colocadas nas faltas, criando com as palavras um belo corpo que possa ser lido com prazer. Muito obrigado.
    Rosa Marin Emed-Rosinha

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