É bonito ver a casa enfeitada pro Natal, principalmente a árvore em seu lugar de destaque. Sabemos que a Árvore de Natal representa o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, enfeitá-la é uma forma de agradecer Sua vinda. Mas o costume de enfeitar árvores parece ser mais antigo que o nascimento de Jesus, dois milênios antes creditava se a elas a energia da fertilidade da Mãe Natureza. Mais tarde eram enfeitadas para que depois da queda de suas folhas no inverno, o espírito das árvores voltasse. Essa história me fascinou, talvez porque árvores tenham sempre feito parte de minha vida como entidades que sempre me acompanharam... Uma das primeiras lembranças que tenho é de uma enorme figueira no quintal da casa em que nasci, onde meu irmão José, um verdadeiro contador de histórias reunia os primos pra contar “causos”. Mais tarde já em outra casa tínhamos um enorme pomar e uma parreira embaixo da qual reuníamos a família para os almoços de Natal e Ano novo. E o cafezal de meu pai...na florada tinha seus pés enfeitados de flores brancas e perfumadas, imponentes e belos como árvores de Natal. O pomar e a parreira duraram até o final de minha adolescência, mas restaram os pés de romã de minha mãe, lindos, no natal ela sempre me presenteava com algumas romãs que eu reservava para o Ano Novo, dizem que traz boa sorte para o ano que se sucede. Ainda hoje as romãs me lembram minha mãe e seu desejo de sorte para os filhos e netos.
Muitos anos mais tarde morei numa chácara em Curitiba, onde nos fundos havia um pequeno bosque, mas as minhas árvores preferidas estavam na frente, junto ao portão de entrada; eram dois caquizeiros majestosos...no primeiro inverno me assustei com a queda de suas folhas, pareciam ter morrido, mas provavelmente seus “espíritos”estavam satisfeitos e voltaram com toda força na primavera e pouco depois se enfeitaram de frutos que acredito ser um dos mais saborosos. Não entendo como Eva sentiu se tentada por uma insossa maçã; o fruto do “pecado” deveria ter sido um suculento caqui. E assim foi por dezoito anos enquanto lá morei; meus caquizeiros não se rendiam ante as intempéries...exemplares caquizeiros...
Hoje moro num apartamento e na sacada tenho algumas valentes orquídeas que sobrevivem há muito tempo, todas presentes que minhas filhas e eu ganhamos, mais elas do que eu. Como meus caquizeiros elas também vão e voltam, a grande diferença é que as folhas continuam verdes, são as folhas da esperança ou da fé, prova de que a despeito do inverno as flores voltarão...são sábias minhas orquídeas...Mas ultimamente tem me intrigado mesmo uma pimenteira, que juro não lembro como veio parar em minha sacada, dizem que traz boa sorte ou que espanta o azar, pelo sim pelo não a mantive, embora já ressequida e triste. Eis que numa manhã aparece enfeitada de frutinhas verdes e vermelhas, me fizeram lembrar Rubem Alves em seu livro “Pimentas”. Diz ele; ”Pimentas são frutinhas coloridas que têm poder para provocar incêndios na boca. Pois há idéias que se assemelham às pimentas: elas podem provocar incêndios nos pensamentos. Mas para provocar um incêndio, não é preciso fogo. Basta um único pensamento-pimenta”. As plantas sempre me surpreendem...os pensamentos também...
Talvez um dia eu enfeite minha arvore da vida com idéias coloridas.
Talvez um dia eu enfeite minha arvore da vida com idéias coloridas.
Rosa Marin Emed
Olá Rosinha, muito obrigado e um grande abraço.
ROSINHA QUERIDA...VC NOS ENCANTA COM SUAS CRÔNICAS.LINDAS COMO VOCÊ.OBRIGADA POR EXISTIR EM NOSSAS VIDAS.
ResponderExcluirFalando com Rosinha
ResponderExcluirUma universitária ainda jovem, entusiasmada ao notar a facilidade como George Bernard Shaw escrevia tanto e tão profusamente, quis saber do já velho pensador escocês o que seria necessário fazer para também escrever tão bem? Shaw, como sempre irônico e irreverente, respondeu-lhe sem disfarçar certo cinismo na voz: “nada, há coisas minha filha que, não se aprende, ou se sabe ou não”.
Realmente, escrever, a exemplo de tantas outras virtudes, é graça congênita! Mozart nasceu músico tanto quanto Pelé nasceu jogando futebol... Triste mesmo me parece, quando alguém nasce com uma habilidade e por circunstância tantas e as mais diversas, delas não se apercebe!
Miguel de Cervantes, por exemplo, depois de ter fracassado ao longo da vida em inumeráveis iniciativas, derrotado e infeliz, recolheu-se a casa, e na falta do que fazer deu ao mundo o universal clássico “Dom Quixote de La Mancha! A nossa doce Cora Coralina, outro exemplo, escreveu seu primeiro livro depois do 60 anos de idade e a tempo de desfrutar enorme popularidade como poeta e escritora, graças a um elogio público de Carlos Drummond de Andrade de quem se fez amiga até a morte deste.
Assim sendo, pelo pouco que foi dito, que a nossa Rosinha me permita a ousadia de uma sugestão: - que adote como sua fonte de perene inspiração a nossa doce goiana de Goiás Velho, Cora Coralina, e se atente para o conselho que deixou: “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher. Nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas e ainda completou: "Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores". A propósito, ainda de Cora Coralina sobre as mãos: Mãos de semeador... Afeitas à semente ira do trabalho. Minhas mãos são raízes procurando terra. Semeando sempre.
RAUL RIBAS
Falando com Raul Ribas
ExcluirEscrever começou como uma grande brincadeira no Facebook; ou talvez muito antes, quando na juventude era tímida no falar e ousava no escrever, como forma de conversar sem correr riscos. A vida e o curso de psicologia melhoraram o que acreditava ser defeito de fabricação, e os escritos ficaram esquecidos... Foram retomados como disse, quando já avó e aprendiz das artes da informática numa brincadeira no Facebook, e agora depois dos sessenta sem medos inúteis. Sem nenhuma pretensão daí saíram para o Ecoeantigos; me basta e me honra que continuem onde estão; jamais serão “Pigmaleão”ou “Don Giovanne”, assim como jamais jogarei futebol. Citando também Cora Coralina; “ O saber se aprende com os mestres, a sabedoria com o corriqueiro da vida...”,e é desse corriqueiro que falo; com simplicidade, como uma conversa entre amigos; distante anos luz do genial e atormentado Miguel de Cervantes que você citou, e como disse Cora Coralina ...”semear tranqüilo sem pensar na colheita....”
Feliz Ano Novo!
Rosa Marin Emed-Rosinha
Sou leitor assíduo de suas crônicas. Parabéns!!!!!!
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