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.- A ÁRVORE QUE O SÁBIO VÊ, NÃO É A MESMA ÁRVORE QUE O TOLO VÊ! William Blake, londrino, 1800.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Shaunoma ou neurinoma do acústico


Shaunoma fez parte de minha vida durante quatro anos. Imediatamente expulso quando descoberto, ele ainda atormentou meus pensamentos e minha fantasia por cinco longos anos; hoje partiu para sempre. Há exatos cinco anos procurei um otorrino me queixando de zumbido persistente no ouvido esquerdo, e ele por “excesso de zelo” solicitou uma ressonância magnética; aquele exame que te colocam num tubo e
você deve se fingir de morta, enquanto ouve marteladas, rajadas de metralhadoras e coisas parecidas. Recebi o resultado das mãos do radiologista e brincando perguntei se ele havia encontrado uma orquestra de grilos em minha cabeça. Muito sério, respondeu; ”a senhora tem uma inflamação num nervo”. Creditei a seriedade ao mau humor matinal do jovem médico e pensei; “para inflamação tomamos anti-inflamatórios” e entreguei o resultado ao meu marido que também é médico. A partir daí talvez eu tenha sentido “um clima”, mas era final de ano, havia compromissos pendentes, afazeres, ou por um mecanismo de defesa não pensei mais no assunto. Só mais tarde soube que o Luiz e meu filho estariam se informando aqui e fora, o melhor caminho a ser tomado.
Numa tarde de final de março de 2007, meu marido me informa que me acompanhará a uma consulta com um neurologista. Inquirido, disse que eu tinha “uma espécie de calo” que deveria ser examinado. “CALO na cabeça? Será que pensei demais e fiz um calo? Impossível!” Durante a consulta, ouvi pela primeira vez a palavra ”tumor cerebral”, Shaunoma ou neurinoma do acústico; tumor muito raro, de difícil diagnóstico, benigno porem grave pela localização. Congelei, e só descongelei quando ele disse que o procedimento seria micro- cirúrgico; ”micro significa pequeno, não deve ser grave.” Congelei novamente quando vi na tela do computador uma cabeça raspada exibindo macro cicatriz, da nuca ao pescoço; igual a que tenho hoje. Mais tarde entendi que micro no caso, se refere á cirurgia delicada, feita com micro instrumentos.
O procedimento foi marcado para primeiro de abril, talvez Freud explique. Meus filhos me acompanharam até a porta do centro cirúrgico e meu ultimo pensamento foi que Malu nasceria dois meses depois, tive muito medo de não conhecê-la. Meu marido ficou comigo até a anestesia me nocautear. Acordei na UTI, que considero o lugar mais solitário que alguém possa estar; é você, seu medo e sua dor, somente. As sessões de fisioterapia começaram ainda no hospital e lentamente reaprendi me manter em pé e andar. A recuperação foi lenta e dolorosa, precisei de muita paciência e muito exercício de terapia de reabilitação do vestibular, já que o tumor se localizava no centro do equilíbrio, até me sentir inteira novamente e meu corpo e meu cérebro entenderem que o mundo não se transformara numa ciranda maluca. Também precisei de um longo tempo para me acostumar a ouvir o mundo de outra forma.
Restou o hábito carinhoso de andar de mãos dadas com meu marido e minha filha, pois durante muito tempo é como eu me sentia segura. Os sapatos de salto alto ficaram no armário por mais de dois anos. Recidiva? Possível, mas rara....como o tumor...A recomendação foi de ressonâncias anuais por cinco anos, hoje recebi o resultado da quinta e ultima; é dia de comemorar. Seqüelas? Perdi a audição esquerda, mas quando necessário ouço também com os olhos e com o coração; eles ouvem até o que não é dito. Por vezes faço uso do que chamo audição seletiva, ouvindo apenas o que quero ouvir. Porém a maior “seqüela” é uma vontade inabalável de viver e ser feliz. Na foto estou com minha filha no casamento da filha de minha amiga Silvia Simao Cavalcante, dois dias antes da cirurgia. Fiz depoimento no site wwwneurinoma.com.br ,onde troquei informações valiosas e fiz amigos queridos.

Muito obrigado Rosinha. Um grande abraço.

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