Shaunoma fez parte de minha vida durante
quatro anos. Imediatamente expulso quando descoberto, ele ainda atormentou meus
pensamentos e minha fantasia por cinco longos anos; hoje partiu para sempre. Há
exatos cinco anos procurei um otorrino me queixando de zumbido persistente no
ouvido esquerdo, e ele por “excesso de zelo” solicitou uma ressonância
magnética; aquele exame que te colocam num tubo e
você deve se fingir de morta, enquanto ouve
marteladas, rajadas de metralhadoras e coisas parecidas. Recebi o resultado das
mãos do radiologista e brincando perguntei se ele havia encontrado uma orquestra
de grilos em minha cabeça. Muito sério, respondeu; ”a senhora tem uma inflamação
num nervo”. Creditei a seriedade ao mau humor matinal do jovem médico e pensei;
“para inflamação tomamos anti-inflamatórios” e entreguei o resultado ao meu
marido que também é médico. A partir daí talvez eu tenha sentido “um clima”, mas
era final de ano, havia compromissos pendentes, afazeres, ou por um mecanismo de
defesa não pensei mais no assunto. Só mais tarde soube que o Luiz e meu filho
estariam se informando aqui e fora, o melhor caminho a ser tomado.
Numa tarde
de final de março de 2007, meu marido me informa que me acompanhará a uma
consulta com um neurologista. Inquirido, disse que eu tinha “uma espécie de
calo” que deveria ser examinado. “CALO na cabeça? Será que pensei demais e fiz
um calo? Impossível!” Durante a consulta, ouvi pela primeira vez a palavra
”tumor cerebral”, Shaunoma ou neurinoma do acústico; tumor muito raro, de
difícil diagnóstico, benigno porem grave pela localização. Congelei, e só
descongelei quando ele disse que o procedimento seria micro- cirúrgico; ”micro
significa pequeno, não deve ser grave.” Congelei novamente quando vi na tela do
computador uma cabeça raspada exibindo macro cicatriz, da nuca ao pescoço; igual
a que tenho hoje. Mais tarde entendi que micro no caso, se refere á cirurgia
delicada, feita com micro instrumentos.
O procedimento foi marcado para
primeiro de abril, talvez Freud explique. Meus filhos me acompanharam até a
porta do centro cirúrgico e meu ultimo pensamento foi que Malu nasceria dois
meses depois, tive muito medo de não conhecê-la. Meu marido ficou comigo até a
anestesia me nocautear. Acordei na UTI, que considero o lugar mais solitário que
alguém possa estar; é você, seu medo e sua dor, somente. As sessões de
fisioterapia começaram ainda no hospital e lentamente reaprendi me manter em pé
e andar. A recuperação foi lenta e dolorosa, precisei de muita paciência e muito
exercício de terapia de reabilitação do vestibular, já que o tumor se localizava
no centro do equilíbrio, até me sentir inteira novamente e meu corpo e meu
cérebro entenderem que o mundo não se transformara numa ciranda maluca. Também
precisei de um longo tempo para me acostumar a ouvir o mundo de outra
forma.
Restou o hábito carinhoso de andar de mãos dadas com meu marido e
minha filha, pois durante muito tempo é como eu me sentia segura. Os sapatos de
salto alto ficaram no armário por mais de dois anos. Recidiva? Possível, mas
rara....como o tumor...A recomendação foi de ressonâncias anuais por cinco anos,
hoje recebi o resultado da quinta e ultima; é dia de comemorar. Seqüelas? Perdi
a audição esquerda, mas quando necessário ouço também com os olhos e com o
coração; eles ouvem até o que não é dito. Por vezes faço uso do que chamo
audição seletiva, ouvindo apenas o que quero ouvir. Porém a maior “seqüela” é
uma vontade inabalável de viver e ser feliz. Na foto estou com minha filha no
casamento da filha de minha amiga Silvia Simao Cavalcante, dois dias antes da
cirurgia. Fiz depoimento no site wwwneurinoma.com.br ,onde troquei
informações valiosas e fiz amigos
queridos.
Muito obrigado Rosinha. Um grande abraço.
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.- A ÁRVORE QUE O SÁBIO VÊ, NÃO É A MESMA ÁRVORE QUE O TOLO VÊ! William Blake, londrino, 1800.
sábado, 1 de dezembro de 2012
Shaunoma ou neurinoma do acústico
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