A
propósito do título da Libertadores recebi a crônica a baixo do meu amigo Edgard
de O. Barros. Acho uma boa ideia repassá-la para o
Ricardo...
José Raul Machado RibasCarissimo, já lhe mandei um texto que, se servisse, poderia ser publicado na dominguiera. Agora, tendo em vista a evolução dos acontecimentos alvi-negros, mando esta outra crônica. Leia. Se gostar e se houver interesse, coloque no lugar a outra. A outra fica pra próxima semana. Isso tudo, repito, se houver interesse. Deu nóis na fita, mano. Parabéns, um abraço, Edgard
Deu
nóis na fita, mano
Por Edgard de Oliveira Barros (*)
Medo? Não, medo mesmo eu senti há uns 35 anos, numa noite de
1977 e a gente tinha que atravessar a Ponte. Pau de dar em doido, como se diz no
Brasil lá de cima. Aquela agonia toda de resgatar a honra, 23 anos na fila sem
ganhar o campeonato paulista, aquilo sim, judiava de todo e qualquer mortal ou
imortal corinthiano.
Porque a Ponte Preta daquele tempo era bem melhor que esse
Boca de hoje. E o nosso time, falando sinceramente, era bem pior que o de hoje.
Ou, talvez, nem sei ou sei lá. Em se tratando de emoções corinthianas tudo é
agonia pura e sofrimento gostoso. Seja como for, como foi ou como era, a corda
estava no pescoço de todos os manos. Como sempre. Até que o Basílio fez aquele
gol e se transformou no “pé de anjo”. Lembro que o meu amigo José Silvério,
brilhante locutor esportivo (eu diria o melhor do Brasil, desde aquele tempo),
gritava pelas ondas da rádio Jovem Pan, o feito do Basílio.
E foi um gol tão doído, tão sofrido, tão angustiante, que até
o Silvério foi além da conta e gritou e contou e narrou também além da conta,
com a alma, com o coração, com a emoção o que todo corinthiano sentia naquela
hora. A narração do Silvério foi tão linda quanto o gol do Basílio. Lembro que
até escrevi uma nota, um comentário no Diário Popular, jornal centenário lá da
Capital, dizendo mais ou menos assim: “O José Silvério narrou o gol do Basílio
com tanta emoção que eu garanto: se o Basílio não fizesse aquele gol, o José
Silvério faria...”
“...até a lua foi te ver,
Corinthians...”
Foi realmente lindo, a Ponte desabou a vitória chegou, o
campeonato era nosso, com a extrema emoção de sair “da fila” de 23 anos. E
saímos todos, os corinthianos, com a alma lavada. Lembro que na época eu era o
Editor-Chefe do jornal Diário Popular, repito, um jornal centenário que em má
hora teve o seu nome alterado para “Diário de São Paulo” e circula até hoje.
Emoção por emoção, lembro da manchete que criei para aquela edição: “Até a lua
foi te ver, Corinthians”. Isso por obra e graça do fotógrafo José Ribeiro que
teve a felicidade de fazer uma foto que mostrava uma parte do gol, o perfil do
Carlos, goleiro pontepretano, parte das arquibancadas do Morumbi, completamente
lotadas, e uma lua enorme, linda, grandiosa e luminosa ao fundo, “presenciando”
e iluminando a partida. Sim, até a lua tinha ido ver o Corinthians.
No começo da noite da quarta-feira passada, mais uma quarta
inesquecível, recebi um e.mail de meu filho que mora em São Paulo, anunciando:
“A lua já chegou no Pacaembu...” Tanto quanto o meu filho eu já tinha vivido
aquele momento e sabia que a lua viria sim para ver a vitória. Faltava então só
o gol e o amigo Zé Silvério e seu vozeirão marcante, hoje narrando pela rádio
Bandeirantes, para que tudo se repetisse. Foi pura questão de tempo.
“...o Emerson não fizesse aqueles dois
gols...”
Às tantas o Emerson recebeu aquele passe de calcanhar do
Danilo, ajeitou e fuzilou o goleiro. Eu que tinha visto a lua, ouvi o Zé
Silvério narrando o gol. E depois o outro gol do mesmo Emerson. E lhes garanto
uma coisa: se o Emerson não fizesse aqueles dois gols, de novo o Zé Silvério
faria. Ou até você faria, caro leitor.
E foi assim que a maior torcida do Brasil, aquela composta
pelas pessoas que não torcem pelo Corinthians, ao contrário, torcem contra,
ficou passada, encabulada, sem saber o que fazer com seus rojões que não puderam
estourar e sua vaia contida. Afinal o time do povo, o time dos manos, o time dos
maloqueiros sofredores, tinha calado a boca de todos. Eu estou ligeiramente
desconfiado mas absolutamente certo de que essa tal torcida dos contras vai
ficar cada vez menor. Isso porque ela já viu que é muito mais gostoso sofrer com
o Corinthians do que sofrer contra o Corinthians...
Sofrido ou não o Timão segurou as pontas, agüentou a barra e
fez o que todo mundo achava que era impossível, bater o imbatível Boca Juniors.
O Brasil inteiro só foi dormir às duas da manhã da quinta-feira porque a TV
Globo teve que ficar falando do Corinthians durante quatro horas seguidas para
conseguir sua melhor audiência.
Agora, o time que todos chamavam de “sem-ter-nada”, tem tudo.
Só deu nóis na fita, mano.
(*) – Edgard de Oliveira Barros é jornalista, publicitário,
escritor, professor de Jornalismo Impresso nas Faculdades Integradas Alcântara
Machado (FMU – São Paulo)
www.edgardbarros.net.br
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