Esta é uma crônica de Rachel de Queiroz que foi publicada na revista “O Cruzeiro” em 11 de janeiro de 1947, mas é extremamente atual. É um tanto longa, mas não deixe de ler!
José Raul Machado Ribas
Sim meu caro Raul, atualíssima. Obrigado, um abraço e até daqui a pouco, no nosso almocinho verde, para atualizarmos as fofocas pindamonhangabenses, onde "zoreias" arderão. rs
Certos assuntos são tão antigos como o cidadão que pisou na
ResponderExcluirlama do dilúvio (não confundir com a lama do delúbio, coisa
mais recente!).
O preclaro cidadão J.R.Machado, repositório da sabedoria,
enviou um texto ao Ouvidor Geral para Assuntos Aleatórios.
Ele foi escrito pela brilhante Rachel de Queiroz e publicado em
11 de janeiro de 1947, na extinta revista O CRUZEIRO.
Apesar de ser um artigo da época diluviana nem por isso deixa
de ser atualíssimo e aplicar-se integralmente a era delubiana.
Ao lê-lo contemplamos toda a miséria que se perpetua ao longo
do tempo. As mesmas misérias, as mesmas mazelas, os mesmos
atos enlouquecidos. Muda apenas a cara de alguns atores no
teatrinho mambembe. Outros atores parecem ter tomado elixir
da longa vida ou ingerido alguma poção demoníaca preparada
pela Magda Patalógica, para ter tão longa existência.
A seguir uma amostra grátis do texto da brilhante Rachel de
Queiroz:
"Votar
HÁ treze anos atrás preparava-se o Brasil para uma
eleição importante. E em “O Cruzeiro” de 11 de janeiro
de 1947, esta nossa Última Página assim falava aos
amigos leitores:
Não sei se vocês têm meditado como devem no
funcionamento do complexo maquinismo político que se
chama govêrno democrático, ou govêrno do povo. Em
política a gente se desabitua de tomar as palavras no
seu sentido imediato..."
Para aguçar a nossa memória no tempo, copiando o bordão
"Élvis não morreu!", veja o papo cabeça entre Colbert e
Mazzarino, travado no período entre 1643 e 1715, quando
reinava Luis XIV.
Nossos extorquidores com toda certeza se inspiraram nessa
dupla, e continuam se inspirando nesse papo maquiavélico,
cuja finalidade é praticar mergulho profundo no bolso do povão.
Esse povão ou zé povinho somos nós, eternamente convocados
a pagar a conta do banquete dos poderosos, sem direito nem
aos sobejos nem as migalhas.
Se enxergamos demais, corremos o risco de termos nossos
olhos extirpados para não incomodarem os comensais do
erótico banquete da esbórnia.
Após essa ablação fica valendo a frase lapidar: "No orbe dos
alópticos impera o miope".
Pensando bem, essa frase até fica bem para ser inscrita em
alguma campa ou para emoldurar placa comemorativa em
alguma herma esquecida nas ágoras da vida. Acho que
também ficaria pomposa no frontispício da morgue, onde
só os acompanhantes poderiam ler.
Caso esteja em dificuldade para fazer boas escolhas, consulte
o arquivo Candidatos especiais. Tem sugestões para todos os
gostos.
Dr. Jacomino Pires, phD pela Universidade de Sara Manca