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.- A ÁRVORE QUE O SÁBIO VÊ, NÃO É A MESMA ÁRVORE QUE O TOLO VÊ! William Blake, londrino, 1800.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Reminiscências da infância - A IMAGINAÇÃO, ONTEM E HOJE!

Olá, meu caro e bom amigo!

A Primavera esta se aproximando e, com ela, a inspiração vem chegando.

Gostaria, imensamente, de poder estar - assim como você - ai no interior, para das flores cuidar. Por as mãos na terra e com a Natureza poder comungar.

Mas, como aqui na cidade grande estou e uma das poucas "ferramentas" que disponho é o computador, vou plantando idéias, enquando minha hora não chegar.




A IMAGINAÇÃO, ONTEM E HOJE!

As crianças, do mundo atual, podem usufruir os mais variados programas de televisão, além de terem à disposição internet, através de computador, celular e vários tipos de jogos eletrônicos, que certamente lhes estimulam a imaginação. Há, também, hoje muitas técnicas pedagógicas que incentiva o desenvolvimento cognitivo, especialmente as áreas do cérebro ligadas à criatividade e a emoção.

Lá nos nossos tempos, nos idos de 50 e 60, o mundo era outro. Especialmente para nós crianças das pequenas cidades do interior. Mas tínhamos nossas próprias formas de estimular a imaginação, desenvolver a sensibilidade e capacidade de criação. Pois, não raramente, tínhamos os alegres, barulhentos e luminosos parques de diversões com seus engenhosos brinquedos que, periodicamente, se instalavam na cidade por uma semana ou pouco mais. Além, é claro, dos circos tradicionais com seus palhaços, animais, mágicos, malabaristas, trapezistas, globo da morte e outros espetáculos que aguçavam nossas curiosidades e nos incitavam, depois, a inventar nossas próprias brincadeiras, com base nas imitações.
Nossos grandes desafios, que aceleravam a produção de adrenalina e outros hormônios que nos causavam profundas emoções, nos levando a êxtases inesquecíveis e nossas almas a conectar com outras dimensões, era tomar os lugares dos artistas e viver, ainda que em nossos imaginários, os perigos dos nossos heróis quase reais.

Mas havia uma grande e peculiar diversão, - afora é claro de nossas brincadeiras de grupos, como cantigas de rodas, mama-na-mula, pula carniça, amarelinha, esconde-esconde ou nadar nos ribeirões, entre outras, - que era o maravilhoso cinema local.

Que universo! Que fantasia!


Que arte salutar que incendiava nossa imaginação e nos levava a êxtases inesquecíveis que, quase sempre, enriqueciam o mundo de nossa imaginação!Que mundo de emoções, que nos transportavam às dimensões onde éramos totalmente livres, poderosos, mágicos, invencíveis e, até mesmo, irresistíveis!

O primeiro que tivemos lá em nossa pequena cidade de interior, se bem me lembro, foi o Cine Saci com suas cadeiras e assoalho de madeira, cuja inauguração foi um dos maiores acontecimentos da região. Anos depois, naturalmente, foi substituído por uma construção mais moderna. Mas, naquela época o fato reuniu banda no coreto, rendeu discursos de políticos, queima de fogos, desfile de madames bem vestidas, com grandes chapéus, sombrinhas nos braços, luvas e bolsas; além de cavalheiros da elite social vestidos de terno preto, com cigarrilhas e chapéu na mão.

Ir ao cinema, em sessões noturnas, só mesmo acompanhado dos pais ou adultos responsáveis, de paletó e gravata, além de sapatos engraxados, para ser literalmente recepcionado por impecáveis policiais da, então, honrosa Guarda-Civil, que usavam uniformes especiais, até com botões dourados, polainas, luvas brancas, além de longas espadas que lhes pendiam do lado. Eles ficavam à porta, sempre com as mãos para trás e reverenciavam cada um de nós, num respeitoso e silencioso cumprimento com o inclinar da cabeça, fazendo-nos sentir ainda mais importante e o acontecimento da noite ser um fato inesquecível para todos que lá podiam estar.

A aquisição do ingresso numerado, um bilhete longo de papel nas cores da bandeira nacional, era silenciosamente disputada com a formação de uma organizada fila que rapidamente se formava, diante da bilheteria que ficava fora do prédio, mas num lugar perfeitamente protegido.

O bilhete, que depois geralmente se tornava peça a ser colecionada, era picotado por um elegante e discreto funcionário, já idoso, na entrada da vasta porta de vidros, no último degrau da longa escadaria, que mais parecia um grande portal.


As pessoas, lentamente, formavam grupos a confabular, mas também, desfilavam e algumas, no vai e vêm, discretamente se cumprimentavam num leve 
inclinar de cabeça, além de um
singular olhar que chamava a atenção dos meninos e das meninas, que, maliciosamente desconfiavam, que ali estivessem os adultos a flertar.

E lá dentro, então, um ambiente de requinte que inibia qualquer criança, especialmente as caipiras, como eu. Mas que, aos poucos, aos sons das estimulantes músicas se libertavam das mãos de seus protetores para correr alegremente de lá para cá, em encontros de orgulho e de pura exibição.


No ar, um singular perfume que parecia se movimentar aos sons das músicas clássicas, mas que, inevitavelmente, se misturam ao cheiro quente das pipocas salgadas e doces que estavam a estourar, até o momento que um som maior, como de um grande bongo, anunciava que a sessão ia começar.

Nesse momento apagavam-se, aos poucos, as primeiras luzes e as pessoas, que estavam na grande sala de espera a desfilar, elegantemente conduziam-se para seus lugares. Os homens solitários, de chapéus nas mãos e lenços nos pescoços, numa última tentativa, ainda se insinuavam às jovens, como que a convidar para que elas viessem no escuro do cinema com eles se sentar.

Nós, os pequenos e curiosos meninos da cidade do interior, simples caipiras, naquele momento éramos invadidos por um sentimento sem igual. E, então, corríamos aos encontrões entre as pernas dos adultos a derramar pelo chão as pipocas que estávamos desesperadamente a saborear, para junto dos nossos responsáveis podermos sentar.



Ah!...O momento mágico, realmente, agora ia então começar!

Mais dois sons característicos marcavam o início do descerrar das longas cortinas de veludo vermelho que, a nossa frente e ao alto, nos pareciam separar de um mundo fantástico de luzes, movimentos e sons que podiam a cada um de nós, a partir de então, um universo inteiro ofertar.

Abriam-se as cortinas...!

A sala às escuras e o som no ar causavam um enfeitiçamento na alma de cada um de nós que, aos poucos, nos fazia penetrar um mundo mágico onde tempo e espaço pareciam não mais existir. Assim, intensa e profundamente, mergulhávamos nas dimensões de nossas próprias imaginações e, aos poucos, criávamos nossos próprios enredos, já que raramente sequer conseguíamos ler as legendas das traduções dos filmes estrangeiros, uma vez que muito pouco eram as películas de produção nacional.




Hoje me perguntam por que gosto de escrever e onde arrumo tanta inspiração para quase ser poeta e escritor, se não jogo videogames e mal sei usar computador.

Então, penso... E, rapidamente, minha memória fica plena de recordações e meu coração se enche de gratidão, pois me vem à lembrança os meus queridos e falecidos pais, nossas vidas simples no interior, meus amigos de infância, nossas brincadeiras que sempre nos faziam improvisar engenhocas feitas de latas, sobras de cordões, restos de colas, pregos e de madeiras velhas. E, principalmente, de nosso mundo da época que era menos agitado, onde as informações só chegavam pelos sons do rádio e nos incitava, também, às mais belas leituras, numa vida simples, mas cheia da mais rica e pura imaginação.

(José Paulo Ferrari – 04 de setembro de 2012 – Reminiscências da infância)


Muito obrigado caro Mestre Ferrari. Perdão pelas imperfeições na disposição de suas ilustrações, pois o provedor Blogger é muito teimoso. Grande abraço.

Um comentário:

  1. O mestre José Paulo Ferrari, soube expressar e reavivar com clarividência e exatidão que lhe é peculiar, em sua cronica supra, as mais caras lembranças e sentimentos daqueles que viveram os anos 50 e 60.
    Parabens, Mestre

    Beltran

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