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.- A ÁRVORE QUE O SÁBIO VÊ, NÃO É A MESMA ÁRVORE QUE O TOLO VÊ! William Blake, londrino, 1800.

sábado, 10 de outubro de 2009

Saudade de Herculândia XXIII

Serjão,
Segue abaixo uma amostra de uma parte de um capítulo do livro dedicado à nossa terra. Se você quiser, pode colocar no bloguinho. Apesar do fato ser verídico, pode ter sofrido pequenas adaptações, pois é muito difícil relembrar todos os seus detalhes.
O fato ocorreu na metade dos anos 50, por ai. Não me lembro do ano corretamente. Perguntei a algumas pessoas que se lembraram de boa parte do ocorrido, mas tampouco foram capazes de precisar a data.

Um abraço,
J.Sylvio

Algum tempo depois da passagem da imagem oficial de Nossa Senhora de Fátima por Herculândia, um fato chamou a atenção de toda a cidade e se transformou em "inesquecível" pela absoluta falta de acontecimentos importantes e ficou conhecido como:

A Surra da Pescocinho!!!

Pescocinho era uma nordestina pequenina e tinha a fama de ser muito brava. Tinha um pescoço muito curto, o que m
otivou seu apelido. Não havíamos percebido a braveza dela enquanto ela foi, por um certo período, empregada doméstica na casa de meu avô Aristides.
Num domingo, um pouco antes do pessoal ir para o estádio municipal para assistir a mais um jogo do Herculândia Clube, eis que começa um bate-boca entre um casal, em frente à farmácia do Sr. Mamone. Era a Pescocinho que havia tirado o marido de dentro de um dos vários botecos da cidade.
Munida de um guarda-chuvas e incentivada por alguns goles de Santa Luzia, a cachaça local, mostrou toda sua bravura e soltou o verbo no maridão, que também não se encontrava no melhor de sua ludicez... O bate-boca se transformou em pancadaria e Pescocinho levando sempre a pior. Tomou muitos pescoções, safanões e certa quantidade de bofetadas. Apanhava, apanhava e não perdia a linha. A cada bofetão uma rodada ao redor de si mesma. Rodopiava mas não caia. Passava a mão pelo rosto e continuava a distribuir cobras e lagartos sobre o maridão.

Ninguém ousava apartar. Não se sabe se por medo do marido ou da reação da Pescocinho. Por umas três vezes, as filhas (que filhas!!!) do farmacêutico ofereceram água àquela mulher estóica, valente e que não se entregava, não se dava por vencida. A multidão que se juntou era enorme e até alguém ousou uma comparação:
- Tem mais gente aqui hoje do que no dia da procissão de Nossa Senhora de Fátima!
Não sei se a frase foi realmente dita, mas vi com meus próprios olhos a quantidade de gente que assistiu a tão inusitado espetáculo. Dizem que uma outra pessoa aproveitou a deixa e lascou:
- Pessoal, tá na hora de irmos para o estádio senão vamos perder o jogo...
Levou uma sonora vaia do público e um olhar irado da Pescocinho!
Realmente o estádio ainda estava vazio e o jogo já começara.
Que vexame!
Os dois policiais estavam no estádio e foram chamados para apaziguar os ânimos em frente à farmácia. Chegaram, deram uns safanões nos dois litigantes e levaram o marido para a cadeia pública.
Pescocinho permaneceu esbravejando com todos que por ali ainda permaneciam, tomou mais um copo d’água, encheu-se de ânimo e coragem e seguiu para a delegacia.
Lá, por desacato à autoridade, ao tentar resgatar o marido agressor, foi trancafiada na cela ao lado.
Saíram na manhã do dia seguinte, ela cheia de hematomas, ele com um a baita dor de cabeça pela ressaca e o lombo um tanto dolorido pelos cassetetes dos policiais.
Até os dias de hoje os remanescentes daquela época relembram com bastante riso o acontecido naquela tarde. Tudo terminado, ainda deu tempo do estádio ficar cheio de torcedores para o segundo tempo do jogo. Ninguém se lembra contra quem foi a partida e muito menos o seu placar!
Mas a surra que a Pescocinho levou ficou para a história como um dos principais acontecimentos da cidade.

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Me lembro bem da Pescocinho, assim como de seu avô, sr. Aristides, que fazia a contabilidade também do meu avô. Muito educado, competente, foi um grande homem. A cachaça era a famosa Santa Lourdes, destilada pelo sr. Luiz Mouro, cuja produção foi descontinuada após o acidente fatal com o seu filho Devanil, o qual tomou um banho de garapão fervendo após a explosão da caldeira. Ficou uma semana na Santa Casa de Tupã entre a vida e a morte, mas não resistiu. Da última vez que passamos por Herculândia, o Félix e eu visitamos seu túmulo e sua foto ainda está lá. O estádio municipal chama-se Stélio Machado Loureiro. Você tinha então 7 anos e narrou bem o ocorrido, do qual não me recordo. 

Obrigado meu caro J. Sylvio por colaborar, enriquecer o bloguinho e relembrar fatos da nossa juventude.

Abração.

Sérgio

4 comentários:

  1. Bom dia Sergio,
    Ficou muito bom. Pena não termos umas fotos da época! O filho do Luiz Mouro era o Divonzir, com "r" mesmo. Não era nosso sotaque que trocava o "l" pelo "r" não. A pinga chegou uma época a se chamar Santa Luzia, mas o nome definitivo e pelo qual ultrapassou "fronteiras" foi mesmo Santa Lourdes.
    Um grande abraço,
    J.Sylvio

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  2. Desculpe-me Sergio, Divonzir era um outro amigo. O filho do Sr. Luiz Mouro era Devanir.
    Abraço.

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  3. Isso mesmo meu caro Sylvio, Devanir Mouro Gallina e tínhamos o xará, Devanil Domingues Eugênio.
    Grande abraço,
    Sérgio.

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  4. E esta Pescocinho não deixou descendentes?

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