Pouco tempo antes de seu passamento, o Andrezinho Walderramas me lembrou de um fato engraçado que nos aconteceu nos estertores dos anos 50, com a pickup Ford 29, pé de bode do João Mecânico, com carroceria alta, de madeira maciça, que teve os grampos do eixo da frente rompidos num buraco coberto d’água, em plena av. Aymorés, em Tupã, aonde havíamos ido num baile no Buarque de Macedo; eu, o João Mecânico (João Marques de Oliveira), diz agora o João que o seu irmão Luiz Carlos Garcia também estava presente, embora ele fosse bem novo, mais um professor carioca de nome Danilo, que aqui lecionava e mais um ou dois outros jovens de que não nos recordamos.
Lembro-me muito bem que já no baile o mar não estava pra peixe, era 10 pra 1 ou seja: uma dama para 10 cavalheiros e não havia nem para o João, com seu bigodinho misto de Clark Gable com Errol Flynn, mas como choveu a noite toda, ficamos retidos no recinto até o amanhecer, quando o pior ainda estava por acontecer.
Cessada a chuva, já de madrugada, saímos e empurramos a camioneta até a av. Aymorés, na descida sentido Santa Casa, para que o motor pegasse no tranco (a bateria não retinha carga). Feito isto, os que estavam empurrando a dita cuja mais na frente, tiveram tempo ainda, em marcha lenta, de subir na cabine (02), e na carroceria, os restantes, e eu, que estava mais atrás, tive tempo apenas de subir no estribo e me segurar no corrimão da carroceria, onde o João me pediu que permanecesse até que o motor aquecesse e a bateria recarregasse.
Assim mesmo, o Andrezinho, bateu com a cabeça no espelho retrovisor e fez apenas um pequeno corte na testa. Os demais, apenas ligeiras escoriações nas mãos e no peito. Nada além disso, graças à Deus. Ai, rumamos a pé até a estação ferroviária para esperar o primeiro trem para Herculândia e eu tive que aturar a gozação, não só de meus companheiros de aventura, como dos passageiros do trem, graças ao meu terno azul marinho vermelho.
O que me espanta, ô Sérgio, é a consciência Jurídica demonstrada pelo João Mecânico, já naquele tempo, em que nem se ouvia falar em dano emergente: material ou moral. “Eu vou processar essa Prefeitura” (entenda-se o município), dizia ele. Mas isso nem foi necessário. Já no primeiro dia útil seguinte, o Município se compôs amigavelmente com o João, reparando a mecânica e a lataria de sua fantástica e valente camioneta, deixando-a novinha em folha, segundo ele me disse depois.
Foi um final de semana enriquecedor, desses que não se esquece. Ainda que com esses percalços todos, sem televisão, sem Internet, sem globalização, sem telefonia celular, éramos muito felizes e não sabíamos.
De dar inveja às novas gerações, com todas essas modernidades.
Beltran
A primeira, atual, é do Beltran, seguida da de época, do João Marques de Oliveira, protagonista da grande aventura. A terceira, encontrei na Net, de modelo parecido com o Fordinho (pé de bode) do João. A quarta foto, de época, registra a Oficina Mecânica do João, atrás do Reo 1949 que era do meu avô. A quinta, também de época, mostra o Andrezinho, de chapéu preto, logo após, seu irmão Tonico e mais lá no fundo, entre os dois, eu mesmo. A última, recente, de uns dois anos, o Fordinho 1929 do Mário, do CAAT - Clube de Autos Antigos de Taubaté.
Esperamos que outras historinhas apareçam por aqui, né não José Sylvio?
Abraços a todos, obrigado pelo carinho e cliquem aí para ouvirem o Rei cantando O Calhambeque.
Sergio,
ResponderExcluirRealmente muito engraçada e muito bem escrita. Mas na época acho que não teve muita graça e sim um grande susto! A graça só vem depois, quando se certifica de que todos estavam bem... Ainda bem, não é mesmo?
Beltran, parabéns pela fluidez da narração e pela verve!
Abraço a todos.