Sortudo que eu sou, já vivi perto da casa onde o Corinthians nasceu. Vivi mas não sabia, nem me tocava de que ali era território sagrado. Ali tinha nascido um gigante. Eu já vi o Rivelino fazer gol a meio minuto de jogo, e bem do meio do campo, no nosso campo, antigo campo, o velho Parque que era de São Jorge.
Foi contra um América, não sei qual deles, não sei das quantas. Talvez da América inteira. Ou do mundo. A gente não gosta de ganhar de coisa pequena. Alguém deu um toque de lado, o Riva bateu de esquerda e mandou ver. Lembro que o goleiro ainda estava rezando o Padre Nosso. Só que o Padre nosso era mais forte. Um a zero no placar. Foi gol do Riva, do meio do campo, do meio do minuto, do primeiro minuto.
Porque a gente só conta o gol do Corinthians, o dos outros nunca vale.
É um pra nóis e o resto não interessa.
A não ser os do Pelé, que seja bendito, mas que tanto nos judiou. Acabou... Eu já gritei Corinthians até lá do outro lado do mundo, quando o Japão inteiro, acho eu, nem sabia, que o Corinthians existia. Foi num bar da Ginza, quanta lembrança, quanta lambança, quanto saquê, quanto Suntory, que era o whisky mais vendido no mundo, pelo menos naquele tempo.
Era um happy-hour bem comum, de todos os dias, de todos os costumes lá do lugar, do bar, bem cheio, até que o saquê me lembrou do Timão. E eu gritei: “Cóóóórinthia!” Solidários e alegres, os japoneses presentes beberam da minha alegria. E até gritaram comigo: “Cóóóórinthia, Cóóórinthia, Cóóóórinthia”. Acho que eles já sabiam o que faziam.
Era o ano de 1981. Depois, de lá para cá, o futebol cresceu muito até no Japão. E de lá como cá deve ter muito corinthiano por lá como tem por cá. Porque Corinthians é assim, onde quer que você vá, chegue logo e vá dizendo:
Deus ajude um corinthiano!”
e ajuda não há de faltar. Porque todo mundo pensa que a gente sofre, porque todo mundo diz que corinthiano é sofredor, porque todo mundo diz que tem dó dos sofredores, mas o mundo não sabe que a gente só sofre mesmo é de amores.
O Corinthians é o dó maior que o amor nos dá. Nunca me esqueço de um dia, velhos tempos de São Paulo, quando a Polícia chegava para colocar ordem na casa e pedia a todo mundo: “Se apresente e mostre documentos!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário