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.- A ÁRVORE QUE O SÁBIO VÊ, NÃO É A MESMA ÁRVORE QUE O TOLO VÊ! William Blake, londrino, 1800.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Homens inteligentes e sensíveis reconhecem na alma feminina a necessidade de se sentirem admiradas e desejadas

Sol preguiçoso, mormaço, barulho do mar....E eu como o sol, tomei gosto pela preguiça displicente e fui ficando..... O livro largado....me permiti fazer nada, pensar nada....sem culpa! Como disse Fernando Pessoa: ”Ai que prazer não cumprir um dever. Ter um livro pra ler e não o fazer...” Despertei de minha malemolência quando um grupo barulhento se acomodou próximo de onde eu estava. Era um grupo de casais de meia-idade; levo o termo ao pé da letra, sendo otimista meio caminho para os 90. Quando retomava minha leitura na tentativa de ignorar a algazarra, ouvi um dos homens comentar com deboche sobre o corpo da própria esposa, e desagradavelmente alguns riram, inclusive algumas mulheres. Mordi a língua revoltada, e mais tarde pude ver a esposa humilhada; não tinha rosto de boneca nem de princesa, mas era um belo rosto exótico e com traços marcantes; não era um corpo de Barbie, tinha mais curvas do que as que se vê nas passarelas ou nas revistas de moda, e por isso mesmo era uma linda mulher de verdade. Aquele homem que provavelmente nunca havia se mirado no espelho assim como estava, de sunga, parecia ter olhos que recusavam ver a beleza da mulher, que certamente outros olhos viam. 

Homens inteligentes e sensíveis reconhecem na alma feminina a necessidade de se sentirem admiradas e desejadas. Não importa se a mulher é mais ou é menos bonita, se é inteligente ou nem tanto, se lê Proust ou assiste big brother. Não importa se é gorda ou se é magra, alta ou baixa, jovem ou velha. Não importa se é um novo amor ou a companheira de muitos anos, se é “gatinha” ou a avó dos seus netos...ou de outros netos. Não estou sugerindo a mentira cruel ou piedosa nem a bajulação fútil; o viço e a beleza juvenil o tempo leva, mas nada destrói na mulher que se sente respeitada, o brilho dos olhos, a gargalhada gostosa, a inteligência lapidada pelo próprio tempo que tira e também dá, habilidades que se aperfeiçoaram, conhecimentos adquiridos, sensibilidade, bondade e até alguma malícia que agora ela ousa sem medo....E o bom humor? Tem algo mais atraente do que o nos faz rir? E as palavras que se calam diante da emoção num silêncio cúmplice? Não existe relação que sobreviva sem cumplicidade... Mas nada supera um elogio sincero no momento certo. Se não for uma lenda, desconfio que o tal ponto G se encontra nos ouvidos, e não onde o estão a procurar. Como diz Carlos Drumond de Andrade: ”Para se entender uma mulher é preciso mais do que deitar-se com ela...Há de se ter mais sonhos e cartas na mesa do que se possa prever nossa vã pretensão...Há de se conseguir fazê-la sorrir antes do próximo encontro....e depois do amor, um silêncio de cumplicidade....Há que ser mulher, por um triz e, então ser feliz!” 

Os olhos não brilham mais? De repente somente mudaram o foco pra bem distante do seu olhar indiferente; ninguém tem o poder de apagar o brilho de quem quer que seja. O silêncio não diz mais nada? Quem sabe ela está longe mesmo, lá no refúgio onde se abriga do seu descaso. A gargalhada incomoda? Falta de alegria pode ser doença. Envelheceu? Muitas dessas rugas ele é co- responsável. O corpo mudou? Só o dela???!!!!Os homens também envelhecem, embora lamentavelmente alguns envelheçam e não amadureçam.... 

Só lamento e não entendo a triste apatia ou conformismo daquelas que em tempos atuais ainda não reagem à destruição de sua auto-estima e de sua dignidade, não há nada pior no universo feminino do que o desrespeito, seja ele grosseiro como o que presenciei na praia, ou sutil e não menos perverso. Tem um verso de Adélia Prado, do poema “A Serenata” que diz; “Estou no começo do meu desespero, e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa”. Convenhamos que santas não sobreviveriam muito bem na terra dos dias de hoje.......Virem “doidas” felizes, verdadeiras,intensas, inteiras e dignas....

Rosa Marin Emed

Rosinha, muitíssimo obrigado mesmo. Um grande abraço a você.

7 comentários:

  1. Vou guardar este texto para relê-lo sempre. Me pegou em cheio. Quantas vezes não fui indelicado? Fiquei ruborizado. A carapuça me serviu. Grato à escritora Rosa.

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  2. RAUL RIBAS
    Incrivelmente certeiro! Fez-me até lembrar um personagem do inesquecível Chico Anízio que após depreciar de forma cruel e humilhante a esposa, parava, olhava na direção do telespectador, e interagindo perguntava: “Tá com peninha, tá? Leve pra você...”. A bela, inteligente e oportuna crônica trás, implicitamente para nós outros, pretensos “machões”, com precisão cirúrgica, o condão de aplicar um pedagógico e merecido puxão de orelhas! Infelizmente, verdade seja dita, nós, pretensos “reis da cocada preta”, muito tarde, diria mesmo que só lá pela casa dos setenta invernos, descobrimos a seguinte dualidade existente neste misterioso ser ao lado do qual passamos uma vida inteira sem entender e a “depender” como uma criança grande: primeiro, a mulher, que temos frente aos olhos e que o tempo cruel cuida de destruir o viço e o encanto da juventude, e a outra, a fêmea, que permanece insondável, imperceptível, dissimulada no mais das vezes aos olhos do companheiro inexperiente, sempre vaidosa, amante e sonhadora, como a viver uma adolescência eterna!...
    Com a devida vênia, gostaria de deixar uma sugestão aos “fregueses” do ecoeantigos.com: - arquivem esta bela crônica para quando, sempre ao presentear noivos juntá-la discretamente ao presente oferecido. Com certeza o presente terá seu fim, mas o antecipado beliscão da dona Rosinha permanecerá como útil advertência...

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  3. José Martins A. de Abreu10 de janeiro de 2013 às 15:07

    Esta crônica da Rosinha e, como era de se esperar, ela se superou. Como excelente cronista que é, Rosinha fala das coisas corriqueiras da vida com a mesma desenvoltura com que penetra e disseca as emoções e a alma de uma pessoa. Magistral sua última crônica, realmente imperdível. Herculândia, conterrâneos e contemporâneos, que se encham de orgulho !
    Abraço Afonso

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    1. Outro dia escrevi o quanto segue:

      * Bacalhau;

      *(O José Martins A. de Abreu, Senador Afonso, quem me ensinou do termo, pois foi revisor de textos dos Diários Associados do Rio de Janeiro e tem passagem significativa, quando, por pouco, não foi despedido pelo Assis Chateaubriand. Há no HD danificado e que assim que formos a São José teremos esperança de recuperação, este conto quase que finalizado. Este mesmo revisor elogiou as crônicas da Rosinha verbalmente, pedi-lhe para passar por e-mail, mas você o conhece bem...)

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  4. Mais uma crônica maravilhosa da Rosinha! Tem toda razão o "freguez" Ribas. Para guardar!
    Todos envelhecemos e o envelhecimento é cruel em relação ao exterior. Faz parte do processo natural da vida. O que não envelhece e não deteriora, é a beleza interna da mulher que, longe de se deteriorar, se aprimora continuadamente e sempre. Àquele homem, cujos olhos míopes transferem para a língua ácida, o que uma mente poluída e deteriorada não consegue avaliar em seu própio eu, só resta recolher-se à sua tamanha pequenêz.
    Que tipo de relacionamento deverá ser esse no aconchêgo de seu lar se, em público comete tamanha perversidade com quem o tem aturado por longos anos?
    Parabéns Rosinha! Agradeço por mais este presente, que devemos guardar e repassar com a convicção de que servirá para muitos.

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  5. Me considero suspeitissimo pra fazer um comentário sobre o texto acima, mas uma coisa ninguem me tira de dizer: tenho um orgulho danado dessa minha irmã vice-caçula.

    Beltran Marin Gasquez

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  6. Grande Beltran! Orgulhe-se dela sim e tenha certeza de ter direito total para elogiá-la! Pois os textos de Rosinha são, realmente, bonitos, tocantes e muito bem elaborados. Como já disse a ela: Tem que publicar um livro de Crônicas!
    Abração.

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