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.- A ÁRVORE QUE O SÁBIO VÊ, NÃO É A MESMA ÁRVORE QUE O TOLO VÊ! William Blake, londrino, 1800.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

SONHO INFANTIL



 (10/4/12)

 Em Curvelo
– cidade canicular,
de terra vermelha demais – ,
quando bem menino,
deitava-me sob árvores
compridas e frondosas
 – talvez eucaliptos –
e esquecia-me a olhar
para o céu
solene e irretocavelmente azul...

Talvez tivesse seis anos,
mas já sonhava alto, impávido,
e meus olhos brilhavam
o brilho azul do céu
quando lá longe,
de muito alto,
surgia o ronco forte
de um teco-teco
que parecia grande ave
desprendida de algum esconderijo
e se mostrava onipotente e majestoso
por aquele azul celeste que se tornava
um pouco cinzento à simples passagem
da pequena-grande ave...
 – lembro-me disso! –

Naquela época, eu acreditava
em Papai Noel,
Capitão Marvel,
Homem-Foguete,
Super-Homem,
Fantasma,
Flash-Gordon,

Hoje puxo pela memória e
tenho impressão de que eu
acreditava mesmo
que um desses super heróis
pudesse estar naquela máquina voadora,
mágica e indestrutível...


Tempos de sonhos e solidão:
vou ser aviador,
perambular por nuvens
e enigmas de arco-iris,
tocar o céu azul,
acatar o barulho do avião
como marca de poder,
dominar segredos do vento, 
atravessar por cima de casas e
gente metida.

Lá de cima,
vou avistar,
acenar,
pisar lágrimas
e amar
Mestre Otávio e Dona Ercília,
Clamar pela presença de meus irmãos
Zépedro, Ticilim, Celsim,
Bolenha e Sandrinha
– Tavim ainda não havia nascido...
Ser rico
e ajudar meu pai
a aliviar um pouco as suas costas
– essas sim vermelhas
de tanto sol a pique,
injetado em sua pele já queimada,
em dias e dias de trabalho árduo
para endireitar
estradas de ferro e trens tombados...

Lá de cima,
vou sorrir para minhas árvores
– eucaliptos? –,
vou passar raspando
na casa daqueles meninos 
que de mim judiaram um dia,
e, com o ronco tonitruante do meu avião,
assustá-los a ponto de vê-los correrrem,
entorpecidos de medo.

Vou descer mais baixo
e passar rente à casa da Sulamita
e mostrar-lhe
a minha audácia em bordejos  
e o meu enredo infantil:
farei esvoaçar até ela o amor pueril
de um filho de Mestre de Linha,
hei de vociferar: case-se comigo,
ó filha do Agente de Estação!
Viajaremos poeticamente,
sem poeiras vermelhas,
por entre nuvens encovadas,
perplexas,
honradas pela visita,
e com o beneplácito do céu azul,
cúmplice do atrevido aviador
de seis anos...
Tempos de sonhos
e solidão...

Gêmiguel



!Gracias! Gêmiguel.

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