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.- A ÁRVORE QUE O SÁBIO VÊ, NÃO É A MESMA ÁRVORE QUE O TOLO VÊ! William Blake, londrino, 1800.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Um bonde passou por aqui

Cassia:
Bons tempos aqueles, que não voltarão jamais.
Dedico ao seus Fotoblog, a você e aos seus amigos o belo conto do Prof. José Jorge de Morais Zacharias.

UM BONDE PASSOU POR AQUI

No início era um pequeno carro de seis bancos, que movia-se lentamente às custas de uma parelha de animais. A pequena vila ganhava o status de cidade! Ainda acanhada com vielas estreitas, sombreadas pelo casario em arco. Um bonde passou por aqui... Outubro de 1872, passou o primeiro bonde vindo do Carmo em direção à Luz. Outros vieram, Bom Retiro, Brás, Vila Mariana! A cidade crescia, e como um polvo estendia seus braços de trilhos por todos os lados. Um bonde passou por aqui
.

Luzes! A cidade acendeu, era a chegada da Light e das lâmpadas cintilantes. Surgiu o novo bonde, maior, mais rápido e elétrico, era o Barra Funda! Em maio de 1900 partiu do Largo de São Bento. Um bonde passou por aqui... Correndo pelos trilhos da Light, a cidade avançava ainda mais. Testemunha participante deste desenvolvimento, o bonde acompanhava o ritmo da urbe. Estávamos descobrindo o mundo! Levava o homem ao trabalho, nem sempre reconhecido. Trazia da escola a garotinha triste com sua nota. Embalava os sonhos dos que se amavam. Estribos, balaustres, sineta, tudo vibrava em sintonia com a vida dos que passavam! Um bonde passou por aqui... Lugar envolvente, no qual se podia confiar. Das idas para a escola, ou para o centro, era o cotidiano seguro e certo.

Viajando de bonde eu pensava na vida, fazia planos de ser motorneiro quando adulto. Queria compreender melhor o bonde, dirigí-lo, apreender sua verdade mais íntima; e além disso, servir as pessoas com dedicação. Lá estava algo inabalável! Um bonde passou por aqui... A cidade cresceu demais e perdeu sua identidade. Eu também crescí e me perdi no torvelinho das paixões. Não há mais lugar para o bonde na cidade, alguém disse; nem para a paz em meu coração, eu percebi. Nos idos de 1968, ouve-se em Santo Amaro seu último gemido agonizante! Hoje, olho para o asfalto gasto e vejo parte do trilho enterrado juntamente com meus sonhos, e com tristeza sei que um bonde passou por aqui...

(de José Jorge de Morais Zacharias) -Fonte Novomilênio

Comentário em 14/03/2007 21:18 no Texturas do Mundo, cujo link está na barra lateral --->

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